Aposentadoria: Preparação para a transição inclui orientação financeira: Empresas pensam na fase pós-carreira de funcionários

A palavra aposentadoria ainda não perdeu a conotação negativa, que traz à lembrança o estigma do pijama e da improdutividade social. Mas, dentro de uma visão humanista, algumas empresas estão buscando mudar o significado do final desse ciclo de trabalho.


"A preparação para a aposentadoria começa a sair da esfera financeira, representada pelos planos de previdência privada, para abranger a esfera psicoemocional dos funcionários de muitas companhias", resume Cecília Shibuya, vice-presidente da Associação Brasileira para a Qualidade de Vida, e uma das criadoras do conceito conhecido como PPA - programa de preparação para a aposentadoria.

Na prática, o PPA é um conjunto de ações desenvolvidas junto aos funcionários próximos da aposentadoria que tem por objetivo despertá-los para a mudança que acontecerá em suas vidas quando a rotina do trabalho na empresa não fizer mais parte do cotidiano. "A ruptura pode ter impactos psicológicos enormes", diz Shibuya.

A idéia da preparação para a aposentadoria é desmistificar essa passagem e propor o resgate dos laços afetivos com a família e com amigos fora do ambiente corporativo, mostrando, também, as possibilidades da nova fase, como um negócio próprio, ou qualquer atividade de interesse, como assistência voluntária. "Após a aposentadoria, um trabalhador pode ter três ou quatro décadas de vida e deve pensar em vivê-las da melhor forma possível", ressalta Shibuya.

Na Duke Energy Brasil, geradora e distribuidora de energia, há trabalhadores se aposentam com 45 anos de idade, em plena força produtiva. Pela legislação, a contabilização do tempo para a aposentadoria para a função de operador no segmento elétrico (maioria do quadro) é de 1,4 ano para cada 1 ano efetivamente trabalhado.

"A empresa está há dez anos no Brasil, começa a ter profissionais na fase final do tempo de trabalho regulamentado pela lei e precisa pensar na sucessão desse pessoal", diz Cecília Frozza, gerente-adjunta de recursos humanos.

O PPA da Duke foi inaugurado esse ano e faz parte de um plano de sucessão que contempla um pacote de incentivos para a aposentadoria e também um amplo programa de formação para trabalhar na operação da empresa.

Dezessete profissionais à beira de "perder o sobrenome empresarial" passaram pelo workshop para se preparar para enfrentar o pós-carreira. As atividades desenvolvidas foram desde palestras e dinâmicas motivacionais até orientações sobre planejamento financeiro.

Ao mesmo tempo, um grupo de 25 jovens começa a ser treinado para a operação. Por isso, a empresa tem grande interesse em cativar esse profissional, muito assediado pelo mercado e que também é um multiplicador de conhecimento.

Com 300 funcionários, a maioria deles sediados nas oito usinas adquiridas da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) em 1999, a Duke irá ampliar o preparo para a aposentadoria nos próximos anos. Tradicionalmente, o funcionário já tem opção de aderir à previdência privada, da Fundação Cesp. "O PPA enfatiza o preparo psicoemocional, para que o desligamento do profissional seja feito de forma respeitosa", afirma a gerente de recursos humanos.

Na Eletronorte, concessionária de energia elétrica que atende a região amazônica, o PPA começou em 2008, apesar de estar aprovado por uma resolução de diretoria desde 2004, como parte de um conjunto de ações da área de promoção de qualidade de vida. É um programa corporativo que também pretende reverter a idéia de que aposentados sejam "velhinhos" improdutivos.

"Na primeira etapa, funcionários com 50 anos ou mais já podem participar das atividades, que estão acontecendo de forma contínua, com periodicidade bimensal", explica Márcia França, gerente de área de promoção da qualidade de vida.

Com o passar do tempo, a idéia é abrir a adesão ao programa para pessoas de qualquer idade. Com 3.170 funcionários, distribuídos em nove unidades descentralizadas, além da sede em Brasília, a Eletronorte tem, atualmente, mais de 1.100 pessoas com mais de 50 anos.

O programa da Eletronorte começou com um primeiro grande evento de sensibilização, em setembro de 2008, transmitido em teleconferência para todas as unidades do Brasil. A partir do início deste ano foram iniciadas as palestras com especialistas, para falar de diversos temas, incluindo planejamento financeiro.

No próximo ano, será a fase de consolidação dos grupos de planejamento de vida. Na Eletronorte, os funcionários também têm a opção de aderir ao plano de previdência privada, o Previnorte, logo que ingressam na empresa.

"Há uma resistência ao tema, mesmo que seja de forma velada", reconhece a engenheira eletricista Nita Fukuoka, 51 anos de idade e 28 de Eletronorte. Para ela, as atividades do PPA estimulam a reflexão, mas ela ainda não concluiu seu plano pós-carreira.

"Eu pretendo cuidar mais dos meus filhos, que estão com 13 e 16 anos de idade", diz ela, sugerindo que deveria haver uma lei que exigisse das empresas a ambientação do funcionário para o desligamento de forma mais concreta, com redução gradativa da jornada de trabalho paralelamente ao estímulo a outras atividades extra corporação.

O conceito do PPA também foi adotado pelo Banesprev, fundo de pensão que atende aos funcionários do banco Santander e outros participantes. Um pouco diferenciado das demais empresas, o programa abrange não apenas os próprios colaboradores, mas todos os 23 mil participantes, dos quais 18 mil já são aposentados.

A experiência com a central de atendimento a participantes do Banesprev foi o ponto de partida para a criação do programa, há dois anos. “Havia muitos casos de pessoas que chegavam à central cheias de angústia e tristeza", conta Jarbas Antonio de Biagi, diretor-presidente do Banesprev, para quem a perda do poder e do status representados pelo cargo na ativa pode levar à depressão.

O PPA do Banesprev é formatado em dois dias de atividades, que acontecem em São Paulo e abordam temas como estilo e qualidade de vida, saúde, maturidade, empreendedorismo e serviços voluntários.

Um orçamento anual destinado especificamente para o programa define a quantidade limite de pessoas para participar. A triagem é feita na base de participantes cadastrados que estejam próximos da aposentadoria. Até hoje, 560 pessoas, de todos os Estados brasileiros, já passaram pelo programa e o índice de satisfação, segundo questionário respondido por eles após os eventos, é de 97%.



Fonte: Valor Econômico.


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