Quanto custa a cultura do “sempre foi assim"




“Ah, mas sempre foi assim...” Essa frase parece inofensiva, né? Mas vou te dizer uma coisa, com a experiência de quem já viu muito chão de fábrica, muitas reuniões mornas e muitos líderes se escondendo atrás da tal zona de conforto: essa frase é uma das mais caras — e perigosas — que uma empresa pode carregar.

Eu já entrei em empresas onde o problema não era a falta de recurso, nem de gente boa. O problema era o vício no piloto automático, aquele pensamento automático de “pra quê mudar se tá dando certo até agora?”. Mas me diga… tá mesmo dando certo? Ou só não deu errado ainda por sorte?

Já vivi situações onde bastava puxar uma pontinha do novelo pra perceber que o sistema estava remendado com fita isolante emocional. Gente cansada, processos falhos, riscos ignorados e a segurança… essa sempre ficando pra depois. Mas como ninguém morreu ontem, segue o baile, né? Só que a conta chega, e quando chega, não tem planilha que disfarce o prejuízo.

Lembro de uma vez, numa empresa grande, tradicional, que estava perdendo talentos e tendo acidentes recorrentes. Quando questionei os processos, ouvi: “Mas Orlane, sempre fizemos desse jeito e nunca tivemos problema”. Respirei fundo e devolvi com carinho: “Talvez o problema seja justamente esse. O erro virou rotina e ninguém mais percebe.”

Essa cultura do “sempre foi assim” é traiçoeira. Ela engana, mascara, acalma… até a hora que explode. E quando explode, explode em forma de acidente, de afastamento, de auditoria, de passivo trabalhista, de cliente perdido, de reputação manchada.

E foi nessa mesma conversa que eu trouxe uma reflexão que carrego comigo há anos, baseada em um dos maiores nomes da segurança do trabalho, Herbert William Heinrich, autor do famoso modelo da pirâmide dos acidentes. Ele dizia:

“A maior parte dos acidentes é resultado direto de atos inseguros. Para cada acidente grave, há centenas de situações ignoradas.” Ou seja, o problema nunca está só no que aparece… está no comportamento invisível, nos riscos silenciosos, nas decisões adiadas.

Quantas vezes você já viu um procedimento sendo feito do jeito errado, mas ninguém mexe porque “dá muito trabalho mudar”? Quantas vezes a liderança sabe que o risco existe, mas prefere esperar alguém se machucar pra justificar a ação? Isso não é gestão, é omissão com verniz de tradição.

Eu sei que mudar processos dá trabalho. Eu sei que revisar procedimentos exige tempo, energia e enfrentamento. Mas me diga uma coisa com o coração aberto: quanto custa manter uma cultura ultrapassada que drena resultados e engessa a inovação? Já parou pra calcular o prejuízo silencioso que essa mentalidade antiquada gera?

Em cada empresa onde tive a oportunidade de atuar, sempre trago essa provocação de cara: “O que vocês estão fazendo hoje que já deveria ter mudado há muito tempo?” E olha… sempre vem aquele silêncio no ar. Porque no fundo, todo mundo sabe o que está travando o crescimento. Só falta alguém ter coragem de mexer na ferida.

Já implantei programas que reduziram em até 40% os acidentes em empresas com histórico crítico. E não foi mágica. Foi olhar estratégico, processos revisitados e gente comprometida com o que realmente importa. E sabe qual foi o maior ganho? Não foi só na segurança, foi na produtividade, na motivação da equipe, no clima organizacional. Porque quando a empresa rompe com o “sempre foi assim”, ela ganha fôlego novo. Ela vira protagonista e não refém da própria história.

Hoje, minha missão é ajudar empresas a romperem com essas travas invisíveis, quebrar esse ciclo de repetição que só gera dor de cabeça. Trago soluções práticas, treinamentos que fazem sentido, diagnósticos que cutucam onde precisa e planos de ação que geram resultado real. Não é teoria, é vivência aplicada no campo de batalha.

Se você chegou até aqui, talvez seja a hora de fazer essa pergunta dentro da sua empresa: “Será que não estamos pagando caro demais por manter o que já deveria ter mudado?”

A boa notícia é que dá pra virar esse jogo. A má notícia… é que se você não fizer nada, alguém vai pagar essa conta. E pode ser caro demais.

Texto transcrito na integra do Autor: 
Orlane Pereira


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