Psicologia do trabalho.
O
fenômeno do trabalho é interessante. Se nos afastarmos de seus aspectos
técnicos e nos aproximarmos dos aspectos psicológicos, mais precisamente da psicologia
do trabalho, poderemos observar algo, no mínimo, intrigante. O trabalho carrega
consigo forte contexto emocional, para o bem e para o mal.
É
condição paradoxal. Seu aspecto positivo e ao mesmo tempo negativo nos provoca
sentimentos antagônicos, que merecem reflexão. Vamos aos exemplos. Todos
desejam ardentemente o trabalho, mais precisamente o emprego. Mas, ao mesmo
tempo, não é raro perceber que quem ama a figura do emprego geralmente odeia a
figura da empresa.
Como
é possível desejar algo que se odeia? Aliás, aqueles que se proclamam de
esquerda possuem comumente um discurso dicotômico nesse sentido: são
ardentemente a favor do emprego, mas combatem intensamente a empresa, como se
esta fosse a encarnação do mal em si. É um discurso que a lógica não sustenta.
Mesmo assim, essas pessoas continuam defendendo algo que é racionalmente
indefensável.
Outro
exemplo: dizem que o trabalho cura; que salva literalmente as pessoas, tira-as
da miséria, insere os indivíduos na sociedade. Mas também não é raro vermos
situações em que o trabalho deixa as pessoas doentes, justamente porque estão
trabalhando.
Como
pode o trabalho ser, ao mesmo tempo, remédio e veneno? Aliás, o trabalho
realmente está inserido no contexto da enfermidade: note-se que os magistrados
costumam classificar uma boa sentença, uma adequada decisão judicial, de um
"remédio jurídico" para determinadas situações.
O
trabalho é considerado sinônimo de prazer. Mas se assim é, como entender quem
deseja ardentemente se aposentar, para poder então "viver a vida"?
Será que o tempo de trabalho representava apenas momentos de sacrifício?
Aposentadoria
significa liberdade, e trabalho, prisão? Dizem que o trabalho é a melhor forma
de dignificar o ser humano, mas não raro pode ser uma das piores formas de
humilhação para o homem. Como pode o trabalho ser o bem e o mal?
A
história do trabalho mostra essa contradição. O trabalho foi e é uma das mais
perfeitas formas de o ser humano produzir o belo, mas também o torna capaz das
piores coisas, por conta da exploração do homem pelo homem.
O
excesso de trabalho mata; a falta também. Estar trabalhando pode representar o
inferno ou o paraíso. Ou seja, o trabalho é um dos bens da humanidade e traz
consigo os mais intrigantes paradoxos.
E,
neste século que se inicia, nada indica que isso vá mudar. Trabalho é prazer,
dever e sofrer, tudo ao mesmo tempo. Mas, por mais antagônica que seja sua
essência, a regra geral prevalece: todos desejam o trabalho.
(*) mestre em Relações Sociais
pela PUC-SP, é sócio da Pastore Advogados.
Diário
do Comércio e Indústria.
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dia verá que essa sua atitude fez parte da sua história”.
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