Número de fumantes nas empresas volta a crescer : Economia aquecida leva à contratação de grupo com maior índice de tabagistas.
Pela primeira vez em sete anos, o número de trabalhadores fumantes aumentou nas empresas brasileiras.
Em 2010, eles representavam 9,5% dos funcionários em 2009, eram 8,1%, segundo levantamento realizado pela seguradora Sul América Seguros com 74 mil trabalhadores em todo o país.
Apesar de baixo, o incremento sinaliza uma mudança de tendência.
De 2004 a 2009, a pesquisa registrou somente quedas na taxa de fumantes das empresas.
Para o diretor de saúde da seguradora, Roberto Galfi, o aumento se deve à economia aquecida, que permitiu a formalização e a maior contratação de trabalhadores com perfil diferente com menos escolaridade e de classes mais pobres, grupos que concentram mais fumantes.
Segundo o Ministério da Saúde, a maior parcela de fumantes da população brasileira (19,3%) tem de zero a oito anos de estudo.
Fumante, a produtora de eventos Camila Souza, 27, teve o seu primeiro emprego formal em 2010. "Se eu pudesse fumar na minha mesa, fumaria o dia inteiro", reclama ela, sobre a Lei Antifumo de São Paulo, que proíbe o tabagismo dentro de empresas desde 2009.
Tendência é oferecer tratamento; Programa gratuito de combate ao tabagismo é diferencial de empresas, dizem especialistas para reduzir o tabagismo entre seus funcionários, a tendência é que as empresas ofereçam tratamentos para eles deixarem o cigarro, afirmam especialistas consultados pela Folha.
Um dos estímulos para isso é um novo padrão do selo "Ambiente Livre do Tabaco".
Antes concedido às empresas que banissem o fumo em suas instalações, ele perdeu a função em São Paulo em 2009, quando a Lei Antifumo vetou inclusive fumódromos nas corporações.
Agora, o Cepalt (Comitê Estadual para Promoção de Ambientes Livres de Tabaco), idealizador da iniciativa e composto por Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, associações de classe, universidades e organizações da sociedade civil, deve se reunir em fevereiro para discutir alterações na ação.
"O selo já não tem o valor de antes. Se o mantivermos, será como incentivo a um diferencial, com ações [corporativas] que vão além da lei", afirma a vice-presidente da ACT (Associação de Combate ao Tabagismo. Quem tem se destacado no cenário de combate ao tabagismo, são as empresas que não apenas estimulam seus funcionários a largar o vício mas também que os auxiliam a fazê-lo.
CUIDADOS
Para a especialista em gestão da qualidade de vida no trabalho, atenção aos trabalhadores, inclusive no que tange ao tabagismo, é parte da obrigação das corporações.
"Quando se contrata um funcionário, contrata-se o pacote inteiro.
Se contratou, tem de cuidar", considera.
É o que faz o Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola). Desde 2009, a instituição desenvolve um programa interno de saúde para permitir que seus funcionários abandonem o tabagismo. São oferecidos gratuitamente consultas com profissionais de saúde, adesivos de nicotina e antidepressivos.
O assistente administrativo Alexsandro Reinaldo, 27, foi um dos que se habilitaram a deixar o tabagismo. Fumante desde os 14 anos, participou da iniciativa em 2010.
"Se eu tivesse de pagar, o tratamento ficaria em segundo plano", considera ele, que conseguiu parar de fumar com o programa. A especialista em qualidade de vida do Ciee, Susana Borges, diz que a intenção é fazer duas campanhas por ano para "não deixar o assunto morrer".(MV)
Companhias e governo podem ajudar a diminuir índice de fumantes no país .
Pesquisas realizadas entre 2004 e 2010 com mais de 70 mil trabalhadores segurados pela Sul América no país mostram que velhos fatores ainda põem em risco a saúde de homens e mulheres.
Apesar do pequeno período analisado e das metodologias distintas, esses trabalhadores parecem mostrar tendências semelhantes aos da população brasileira frente às estimativas nacionais do Ministério da Saúde.
Há indícios de que, com o aquecimento da economia, classes sociais mais baixas e com menor escolaridade tenham entrado no mercado trazendo proporção maior de fumantes e de usuários abusivos de álcool do que os encontrados na população geral. Isso justificaria maior exposição a esses fatores de risco -tabagismo e alcoolismo.
Políticas de controle do tabagismo e, em alguns Estados, leis de ambientes de trabalho livres de fumo podem ter levado a um efeito oposto com redução da proporção de fumantes que já estava no mercado neutralizando o aumento que teria sido gerado com a entrada do novo grupo, o que não ocorreu com o caso do álcool.
Dados nacionais e globais mostram que o tabagismo responde por 9% das mortes e o álcool por 3,5%, o que aponta para a necessidade de uma regulação maior.Eles também indicam que uma política de saúde empresarial voltada para a prevenção possivelmente reduz a exposição do trabalhador ao risco, mas as mudanças de mercado e as políticas públicas também podem influenciar essa análise.
Esse processo precisa ser apoiado pelo governo. Quando o Estado exerce seu papel, todos ganham; quando ele se limita, todos perdem.
Programas são perenes e gratuitos : Empresas oferecem medicamento, exercícios e assistência à família
Os programas antitabagismo tidos como exemplares por especialistas têm algo em comum: nunca param. Na AES Eletropaulo, a iniciativa, que começou em 2009 e ajudou até agora 113 pessoas a largar o cigarro, segue um ciclo anual, que começa com palestras de conscientização e motivação.
Os interessados em parar de fumar fazem uma avaliação médica para definir as "principais causas do vício" e são encaminhados a profissionais da saúde, que realizam acompanhamento psicológico do paciente e ministram o tratamento medicamentoso. Tudo de graça.
Para o diretor técnico da Seguros Unimed, Alexandre Ruschi, o mais importante é que a empresa ofereça, além de tratamento, oportunidades para que o funcionário consiga mudar seus hábitos.
Para isso, explica ele, é preciso congregar apoios médico e psicoterápico, medicamentos e um conjunto de ações, como exercícios físicos, para que a iniciativa tenha êxito entre os atendidos. É o que a empresa tem feito desde 2008. Até hoje, 16 pessoas pararam de fumar com o auxílio do programa, cujo índice de sucesso é de 66%.
Na Johnson & Johnson, a iniciativa surtiu resultado em 240 das 400 pessoas que se inscreveram desde 2000.Diferentemente de boa parte dos programas, contudo, o da companhia tem abrangência estendida -inclui também os familiares de funcionários que tenham interesse em largar o cigarro.
Todos os inscritos recebem tratamento médico gratuito da empresa. Os familiares têm de arcar com o custo do medicamento.(MV)
Doença gerada por exposição ao fumo dá direito a indenização
O empregado exposto a um ambiente com fumaça de cigarro que tenha contraído doença relacionada ao tabaco tem direito a receber indenização da corporação que o expôs ao risco, segundo a técnica da divisão de controle do tabagismo do Inca (Instituto Nacional do Câncer) Vera Colombo.
"A fumaça é um agente insalubre, mas sua relação com a doença deve ser comprovada", afirma a advogada trabalhista Tamira Fioravante.O artigo nº 157 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) determina que empresas instruam funcionários "quanto às precauções a tomar no sentido de evitar doenças ocupacionais".Hoje, oito Estados brasileiros contam com legislação que bane o fumo no trabalho.
"Foi doloroso nas primeiras semanas", relata ex-fumante
Quando Mara Santos tinha 11 anos, colegas do colégio ofereceram o primeiro cigarro que ela tragou na vida. Depois de 29 anos como fumante contumaz, foi também um colega, dessa vez do trabalho, que fez com que Santos parasse de fumar.
Ela estava de férias quando a empresa em que trabalha, a Johnson & Johnson, lançou um programa para auxiliar os funcionários que quisessem deixar o cigarro.
Um colega, que conhecia a luta de Santos contra o vício , ela já havia tentado parar de fumar oito vezes, por diferentes métodos-, inscreveu-a sem que ela soubesse.
Quando voltou de férias, ela teve a notícia de que estava na primeira turma de tratamento a tabagistas. "Foi doloroso nas primeiras semanas. Eu sonhava com cigarro", diz a supervisora de treinamento, que está há dez anos sem fumar.
Um dos principais fatores para conseguir largar o cigarro, afirma Santos, foi estar em um grupo de colegas."O que me ajudava era a equipe. Éramos 18 fazendo o tratamento, todos no mesmo prédio. Quando batia o desespero, um ligava para o outro e nos encontrávamos."
Folha de São Paulo.
Em 2010, eles representavam 9,5% dos funcionários em 2009, eram 8,1%, segundo levantamento realizado pela seguradora Sul América Seguros com 74 mil trabalhadores em todo o país.
Apesar de baixo, o incremento sinaliza uma mudança de tendência.
De 2004 a 2009, a pesquisa registrou somente quedas na taxa de fumantes das empresas.
Para o diretor de saúde da seguradora, Roberto Galfi, o aumento se deve à economia aquecida, que permitiu a formalização e a maior contratação de trabalhadores com perfil diferente com menos escolaridade e de classes mais pobres, grupos que concentram mais fumantes.
Segundo o Ministério da Saúde, a maior parcela de fumantes da população brasileira (19,3%) tem de zero a oito anos de estudo.
Fumante, a produtora de eventos Camila Souza, 27, teve o seu primeiro emprego formal em 2010. "Se eu pudesse fumar na minha mesa, fumaria o dia inteiro", reclama ela, sobre a Lei Antifumo de São Paulo, que proíbe o tabagismo dentro de empresas desde 2009.
Tendência é oferecer tratamento; Programa gratuito de combate ao tabagismo é diferencial de empresas, dizem especialistas para reduzir o tabagismo entre seus funcionários, a tendência é que as empresas ofereçam tratamentos para eles deixarem o cigarro, afirmam especialistas consultados pela Folha.
Um dos estímulos para isso é um novo padrão do selo "Ambiente Livre do Tabaco".
Antes concedido às empresas que banissem o fumo em suas instalações, ele perdeu a função em São Paulo em 2009, quando a Lei Antifumo vetou inclusive fumódromos nas corporações.
Agora, o Cepalt (Comitê Estadual para Promoção de Ambientes Livres de Tabaco), idealizador da iniciativa e composto por Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, associações de classe, universidades e organizações da sociedade civil, deve se reunir em fevereiro para discutir alterações na ação.
"O selo já não tem o valor de antes. Se o mantivermos, será como incentivo a um diferencial, com ações [corporativas] que vão além da lei", afirma a vice-presidente da ACT (Associação de Combate ao Tabagismo. Quem tem se destacado no cenário de combate ao tabagismo, são as empresas que não apenas estimulam seus funcionários a largar o vício mas também que os auxiliam a fazê-lo.
CUIDADOS
Para a especialista em gestão da qualidade de vida no trabalho, atenção aos trabalhadores, inclusive no que tange ao tabagismo, é parte da obrigação das corporações.
"Quando se contrata um funcionário, contrata-se o pacote inteiro.
Se contratou, tem de cuidar", considera.
É o que faz o Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola). Desde 2009, a instituição desenvolve um programa interno de saúde para permitir que seus funcionários abandonem o tabagismo. São oferecidos gratuitamente consultas com profissionais de saúde, adesivos de nicotina e antidepressivos.
O assistente administrativo Alexsandro Reinaldo, 27, foi um dos que se habilitaram a deixar o tabagismo. Fumante desde os 14 anos, participou da iniciativa em 2010.
"Se eu tivesse de pagar, o tratamento ficaria em segundo plano", considera ele, que conseguiu parar de fumar com o programa. A especialista em qualidade de vida do Ciee, Susana Borges, diz que a intenção é fazer duas campanhas por ano para "não deixar o assunto morrer".(MV)
Companhias e governo podem ajudar a diminuir índice de fumantes no país .
Pesquisas realizadas entre 2004 e 2010 com mais de 70 mil trabalhadores segurados pela Sul América no país mostram que velhos fatores ainda põem em risco a saúde de homens e mulheres.
Apesar do pequeno período analisado e das metodologias distintas, esses trabalhadores parecem mostrar tendências semelhantes aos da população brasileira frente às estimativas nacionais do Ministério da Saúde.
Há indícios de que, com o aquecimento da economia, classes sociais mais baixas e com menor escolaridade tenham entrado no mercado trazendo proporção maior de fumantes e de usuários abusivos de álcool do que os encontrados na população geral. Isso justificaria maior exposição a esses fatores de risco -tabagismo e alcoolismo.
Políticas de controle do tabagismo e, em alguns Estados, leis de ambientes de trabalho livres de fumo podem ter levado a um efeito oposto com redução da proporção de fumantes que já estava no mercado neutralizando o aumento que teria sido gerado com a entrada do novo grupo, o que não ocorreu com o caso do álcool.
Dados nacionais e globais mostram que o tabagismo responde por 9% das mortes e o álcool por 3,5%, o que aponta para a necessidade de uma regulação maior.Eles também indicam que uma política de saúde empresarial voltada para a prevenção possivelmente reduz a exposição do trabalhador ao risco, mas as mudanças de mercado e as políticas públicas também podem influenciar essa análise.
Esse processo precisa ser apoiado pelo governo. Quando o Estado exerce seu papel, todos ganham; quando ele se limita, todos perdem.
Programas são perenes e gratuitos : Empresas oferecem medicamento, exercícios e assistência à família
Os programas antitabagismo tidos como exemplares por especialistas têm algo em comum: nunca param. Na AES Eletropaulo, a iniciativa, que começou em 2009 e ajudou até agora 113 pessoas a largar o cigarro, segue um ciclo anual, que começa com palestras de conscientização e motivação.
Os interessados em parar de fumar fazem uma avaliação médica para definir as "principais causas do vício" e são encaminhados a profissionais da saúde, que realizam acompanhamento psicológico do paciente e ministram o tratamento medicamentoso. Tudo de graça.
Para o diretor técnico da Seguros Unimed, Alexandre Ruschi, o mais importante é que a empresa ofereça, além de tratamento, oportunidades para que o funcionário consiga mudar seus hábitos.
Para isso, explica ele, é preciso congregar apoios médico e psicoterápico, medicamentos e um conjunto de ações, como exercícios físicos, para que a iniciativa tenha êxito entre os atendidos. É o que a empresa tem feito desde 2008. Até hoje, 16 pessoas pararam de fumar com o auxílio do programa, cujo índice de sucesso é de 66%.
Na Johnson & Johnson, a iniciativa surtiu resultado em 240 das 400 pessoas que se inscreveram desde 2000.Diferentemente de boa parte dos programas, contudo, o da companhia tem abrangência estendida -inclui também os familiares de funcionários que tenham interesse em largar o cigarro.
Todos os inscritos recebem tratamento médico gratuito da empresa. Os familiares têm de arcar com o custo do medicamento.(MV)
Doença gerada por exposição ao fumo dá direito a indenização
O empregado exposto a um ambiente com fumaça de cigarro que tenha contraído doença relacionada ao tabaco tem direito a receber indenização da corporação que o expôs ao risco, segundo a técnica da divisão de controle do tabagismo do Inca (Instituto Nacional do Câncer) Vera Colombo.
"A fumaça é um agente insalubre, mas sua relação com a doença deve ser comprovada", afirma a advogada trabalhista Tamira Fioravante.O artigo nº 157 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) determina que empresas instruam funcionários "quanto às precauções a tomar no sentido de evitar doenças ocupacionais".Hoje, oito Estados brasileiros contam com legislação que bane o fumo no trabalho.
"Foi doloroso nas primeiras semanas", relata ex-fumante
Quando Mara Santos tinha 11 anos, colegas do colégio ofereceram o primeiro cigarro que ela tragou na vida. Depois de 29 anos como fumante contumaz, foi também um colega, dessa vez do trabalho, que fez com que Santos parasse de fumar.
Ela estava de férias quando a empresa em que trabalha, a Johnson & Johnson, lançou um programa para auxiliar os funcionários que quisessem deixar o cigarro.
Um colega, que conhecia a luta de Santos contra o vício , ela já havia tentado parar de fumar oito vezes, por diferentes métodos-, inscreveu-a sem que ela soubesse.
Quando voltou de férias, ela teve a notícia de que estava na primeira turma de tratamento a tabagistas. "Foi doloroso nas primeiras semanas. Eu sonhava com cigarro", diz a supervisora de treinamento, que está há dez anos sem fumar.
Um dos principais fatores para conseguir largar o cigarro, afirma Santos, foi estar em um grupo de colegas."O que me ajudava era a equipe. Éramos 18 fazendo o tratamento, todos no mesmo prédio. Quando batia o desespero, um ligava para o outro e nos encontrávamos."
Folha de São Paulo.