Gastos da Previdência com acidentes de trânsito crescem 54% em dois anos.
Os gastos da
Previdência Social com benefícios decorrentes de acidentes de trânsito somaram
R$ 12 bilhões no ano passado ante R$ 7,8 bilhões em 2011. Para reverter a
tendência, o governo quer criar políticas mais eficazes de prevenção e
intensificar os programas de reabilitação dos trabalhadores que sofreram algum
tipo de acidente para reduzir o peso da fatura de aposentadorias por invalidez
e auxílio-doença para os cofres públicos.
O secretário
de Políticas de Previdência Pública do Ministério da Previdência, Leonardo
Rolim, disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que
esse aumento de 53,84% das despesas previdenciárias com acidentes de trânsito
em dois anos foi concentrado em acidentes de moto, principalmente na região
Nordeste. "Quem mais gasta com acidentes de veículos é a Previdência
Social", afirmou o secretário.
Os números
do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias
Terrestres (DPVAT), administrado pela Seguradora Líder, mostram que, levando em
conta os seguros pagos, foram registrados 366,4 mil acidentes em 2011.
Somente no
primeiro semestre do ano passado, 299,3 mil sinistros levaram ao pagamento do
seguro obrigatório. A previsão é que o número dobre no fechamento do ano, o que
daria quase 600 mil desembolsos.
O
diretor-presidente da Líder, Ricardo Xavier, ressaltou que as motocicletas já
representam 27% da frota de veículos no país e esse "fenômeno", está
diretamente ligado à melhora do poder de compra da população brasileira e
focado, principalmente, na região Nordeste. Por isso, a necessidade de
investimentos em programas de prevenção.
Segundo
Rolim, a elevação dessas despesas e o impacto nas contas públicas são motivo de
preocupação e, por isso, têm sido tema de reuniões do ministério e do Conselho
Nacional de Previdência Social (CNPS). As soluções estudadas pelo conselho
envolvem a prevenção e a recuperação. O primeiro eixo analisa uma experiência
realizada no interior do Estado do Rio Grande do Norte.
"A ação
conjuga divulgação com ação repressiva e reduziu os acidentes em 70% de um ano
para o outro", disse o secretário. Já na recuperação, o foco é melhorar a
reabilitação profissional oferecida pelo governo.
O objetivo é
difundir a experiência que "foi sem custo, simples e bem
implementada", afirmou Rolim. "As políticas hoje são voltadas para os
grandes centros, sendo que a cobertura previdenciária em pequenos municípios do
Nordeste é muitas vezes maior do que de grandes centros."
Segundo o
secretário, o aumento das indenizações causadas por acidentes de trânsito tem
pressionado as despesas de aposentadoria por invalidez e auxílio-doença. Esses
gastos totalizaram R$ 65,4 bilhões em 2013.
O governo
quer fortalecer e ampliar a reabilitação de trabalhadores que sofreram algum
tipo de acidente ou ficaram doentes. Com isso, deverá haver uma menor concessão
de aposentadoria de invalidez e auxílio-doença por um período longo e
intensificação da liberação de auxílio-acidente.
Como o valor
do auxílio-acidente é inferior aos outros, o governo passaria a ter uma
economia. Por outro lado, o segurado poderia voltar ao mercado de trabalho
formal sem perder o benefício. Rolim disse que "ajustes" também
poderão ser feitos na legislação para que sejam criados benefícios que
incentivem o retorno ao mercado formal e que estimulem as empresas a contratar
funcionários que passaram por requalificação.
A percepção
do governo é que, como os programas para recondução do funcionário ao mercado
são ineficazes, o total de benefícios por invalidez concedidos cresceu muito,
se comparado ao verificado em outros países.
Em muitas
situações, o trabalhador deveria receber um auxílio-acidente e não uma
aposentadoria por invalidez. Atualmente, o governo consegue reabilitar de 15
mil a 20 mil pessoas por ano, mas existe demanda de 300 mil.
Em
decorrência disso, a quantidade de benefícios por invalidez no país atingiu a
marca de 18% dos benefícios previdenciários concedidos. Na avaliação de Rolim,
um número "aceitável" seria de 10%.
A Grécia,
por exemplo, no auge da crise tinha 14,5% do total de benefícios
previdenciários nessa modalidade. "Hoje, a reabilitação é ineficiente.
Precisamos melhorar a efetividade", disse, reforçando que melhorias na
gestão podem reduzir o período de concessão de auxílio-doença e a quantidade de
aposentadorias por invalidez.
Com essa
mudança, seria possível diminuir as despesas por invalidez em 40% ao longo de
dez anos, ou o equivalente a cerca de R$ 20 bilhões, avalia Rolim. Em 2013, a despesa do governo
com aposentadoria por invalidez foi de R$ 42,5 bilhões e auxílio-doença R$ 22,9
bilhões. Já o desembolso com auxílio-acidente foi de R$ 2,65 bilhões.
De acordo
com o secretário, esse é o caminho que resta para diminuir os gastos da
Previdência, já que "não há mudança visível no horizonte" em dois
outros gargalos do setor: a pensão por morte e o fator previdenciário.
O presidente
da Força Sindical, Miguel Torres, disse que a entidade está disposta a recorrer
ao Supremo Tribunal Federal (STF) se o governo fizer mudanças na seguridade
social sem negociar com os trabalhadores.
"Entendemos
que qualquer mudança na Previdência deve ser amplamente discutida com a
sociedade e com os representantes dos trabalhadores, de forma democrática. Não
aceitaremos de maneira alguma uma reforma feita na calada da noite, com o
intuito de mexer nos direitos adquiridos", disse o sindicalista.
Valor Econômico.
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