A rede de corrupção que esmaga e destrói carreiras.
Há
alguns meses, conversei com um jovem executivo que recém havia sido desligado
de uma multinacional. Ele buscava ajuda para se reposicionar no mercado.
A
empresa em que trabalhava foi investigada por formação de cartel. A matriz
resolveu colocar sua cabeça a prêmio e o demitiu por justa causa. De jovem
promissor, passou a réu em poucos meses. A prática de cartel, segundo ele, era
comum havia muitos anos na empresa. Ele deu continuidade a uma regra antiga no
setor.
Pouco
pude fazer para ajudá-lo. A escolha de trabalhar nesse jogo gerou um dano de
difícil reversão no mercado. Na justiça, certamente conseguirá explicar e
definir sua culpa. No mercado de trabalho, já está sentenciado. Silenciosamente
condenado porque nenhuma empresa devidamente informada arriscaria contratá-lo.
No
momento histórico em que vivemos, as grandes operações da Polícia Federal
chamam atenção e nos deixam perplexos. Entre lava-jatos e empresas X, queremos
condenar todos os corruptores e corruptos que assolam nossa credibilidade como
nação. Queremos, com razão, bani-los de nosso sistema.
Gostaria,
no entanto, de analisar o impacto desses escândalos num segundo grupo de
executivos. São aqueles profissionais de média e alta gestão que não estão
diretamente ligados às investigações. Mas, suas carreiras são abaladas por
estarem vinculados às empresas envolvidas nas falcatruas.
Muitos
não realizaram práticas ilegais. Em muitas empresas, executivos que trabalham
em áreas técnicas, por exemplo, não estão envolvidos em negociações comerciais.
Estão ocupados em realizar os projetos e cumprir suas funções sem saber dos
acertos feitos para concretizar negócios. Outros sabem, mas não operam diretamente.
Outros executam, mas cumprem ordens corporativas. Todos ficam no mesmo saco de
culpados na hora em que a confusão emerge.
Existe
uma transferência direta da reputação da empresa para a carreira dos
profissionais. Trabalhar em empresas envolvidas em escândalos gera dano para a
imagem de uma pessoa. Muitas vezes, esse impacto é irreversível. E,
diferentemente dos executivos como Pedro Barusco e Nestor Cerveró, com suas
milionárias contas bancárias na Suíça e em paraísos fiscais, a grande maioria
dos profissionais possui apenas seu nome para continuar trabalhando e gerando
receita.
A
crueldade do mercado de trabalho se dá pela condenação antecipada. Ao menor
sinal de fumaça, o executivo é banido das listas de contratações. A lógica de
contratar é baseada em minimizar riscos. Recrutar alguém que possa ter
problemas judiciais não é uma prática comum. O mercado de trabalho opera com
alto grau de preconceito e filtro.
Nesses
tempos, o alerta sobre a governança na carreira precisa ser elevado. Significa
que o profissional precisa ter clareza sobre os riscos que sofre quando está
numa empresa envolvida em práticas ilegais. Para proteger sua trajetória,
precisa eleger seu código de conduta. Deve tornar conscientes quais ações julga
que são corretas e as medidas que irá tomar caso perceba que a empresa está
indo para caminhos que possam prejudicar sua marca como profissional. É melhor
pedir demissão e escapar de uma organização em que não confia do que ficar por
comodismo - e depois ver sua vida profissional virar um pesadelo.
Estamos
na era da trabalhabilidade, em que somos todos responsáveis por gerar trabalho
e renda ao longo da carreira. A máxima de que cada profissional é dono de seus
caminhos nunca foi tão verdadeira. Ser protagonista e não ser pego de surpresa
é um impositivo contemporâneo.
Temos
diversos eventos simultâneos que aumentam a complexidade na condução da vida
profissional. O aumento da longevidade nos faz pensar que iremos trabalhar mais
tempo e precisaremos criar formas diversas para produzir e continuar
contribuindo na sociedade. Precisamos mais do que nunca cuidar do pilar de
idoneidade da carreira. Analisar nossos atos e seus impactos, e também a
empresa à qual estamos vinculados.
Valor Econômico.
“Prevencionista,
se você gostou, seja um seguidor e compartilhe com seus amigos e um dia verá
que essa sua atitude fez parte da sua história”.
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