A crise chegou ao emprego.
O
governo se disse surpreso com o fato de o Brasil ter fechado mais de 30 mil
postos de trabalho só no mês de outubro. A surpresa é injustificável, pois a geração
de empregos vem perdendo força há mais de um ano, segundo os dados coletados
pelo próprio governo no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A
indústria de transformação e a construção civil vêm apresentando desempenho
fraquíssimo.
Por
isso, para a maioria dos brasileiros não deve ter havido surpresa. A julgar
pelo comportamento dos consumidores, nota-se uma profunda redução no nível de
confiança no futuro da nossa economia. Apesar de a taxa de desemprego se manter
baixa, as pessoas sentem que as oportunidades de emprego estão escasseando.
Percebem que a maioria dos empregos gerados nos últimos tempos se concentra nas
faixas de salários mais baixos. De fato, dois terços dos empregos gerados em
2014 pagam, em média, 1,5 salário mínimo. Acima disso, os empregos estão
rareando.
Alguns
argumentam que o salário mínimo em si aumentou bastante, o que é verdade. Mas,
quando se consideram o avanço da inflação e a escassez de bons empregos, há
razões de sobra para os consumidores agirem com cautela - sem falar no peso do
endividamento, que atinge a maioria das famílias. Para os consumidores, o
momento é de grande incerteza. O próprio varejo tem acusado importantes
mudanças no consumo até mesmo em gêneros de primeira necessidade.
A
anemia na criação de postos de trabalho decorre do estado de mal-estar que
atinge não apenas os consumidores, mas, sobretudo, os investidores. Na
indústria, o quadro é dramático. Em quase todos os ramos, as empresas perdem
competitividade em razão do alto custo da produção e da comercialização no
Brasil.
Com
um quadro desse tipo, não é surpresa ver o emprego crescer lentamente ou até
diminuir, como ocorreu no mês passado. Ao longo do ano, só as montadoras
demitiram mil empregados por mês (em média). Como essa atividade tem uma cadeia
produtiva longa e complexa, as demissões vão se multiplicando nas empresas de
autopeças, equipamentos, serviços especializados, chegando até a ponta onde
está a siderurgia.
Estamos
numa encruzilhada. O País perdeu a força para crescer e não dá sinais de
recuperação. Os problemas foram se avolumando e agora bateu à porta do emprego.
Por sorte ou por força da demografia, atravessamos essa crise com baixas taxas
de desemprego. Isso decorre da redução dos que procuram emprego, em razão da
diminuição da natalidade, e também da ação dos atenuantes do desemprego, como é
o caso dos programas sociais (Bolsa Família, financiamento da matrícula,
melhoria do valor da aposentadoria, etc.). Isso tudo gerou uma redução da taxa
de atividade das pessoas no mercado de trabalho e menos pressão por emprego.
Muitos
dos que leem este artigo devem se sentir desconfortáveis porque enfrentam agora
mesmo grandes dificuldades para conseguir empregos que paguem o condizente com
seu nível de qualificação e experiência profissional. Esse quadro é verdadeiro.
Cresce a cada dia o número de "nem-nem maduros", homens com mais de
50 anos que nem trabalham nem se aposentam. Para eles, os bons empregos
sumiram.
O
mais grave, entretanto, é que esse quadro pode piorar. Sim, porque, a continuar
o corte de empregos verificado em outubro - lembrando que dezembro é mês de
muitas dispensas -, chegaremos a um ponto em que os empregos oferecidos, mesmo
os de menor remuneração, não serão suficientes para atender à procura - ainda
que reduzida e atenuada. Não me surpreenderia se, em meados de 2015, o quadro
traçado vier a redundar numa preocupante elevação da taxa de desemprego, com
redução da massa salarial, do consumo e, ainda mais, dos investimentos.
O
Estado de São Paulo.
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