Casos extraconjugais no ambiente corporativo podem prejudicar a carreira.

“Entre os assuntos da rádio corredor das empresas, há um que pode ser bastante corrosivo: as relações afetivas dos colegas. E é ainda pior se as suspeitas recaem sobre pessoas casadas. Às vezes, a carreira dos envolvidos é prejudicada. Pode até haver implicações legais. “A questão é saber se houve um comportamento que afetou o ambiente de trabalho – a vida pessoal não deve prejudicar o que ocorre dentro do ambiente de produção”, diz a advogada Aparecida Tokumi Hashimoto.”

Todos que trabalham em uma corporação sabem o poder da rádio corredor, uma difusa rede de maledicências acionada em intervalos da atividade, pausas para o cafezinho e almoços. Ela existe, é atuante e não há empresa que consiga evitá-la.

Ninguém é capaz de dizer a origem dos boatos, que às vezes ganham ares de informação fidedigna, e podem comprometer todo um esforço para a harmonização da equipe. As fofocas sobre contratações, demissões, desavenças, fazem parte do dia a dia do ambiente de trabalho. E, quanto menor a transparência da comunicação interna da organização, mais os funcionários lançam mão do expediente.

Reputações já foram criadas e destruídas dessa forma, com reflexo para carreiras e consequentemente para a competitividade da empresa. Mas, entre todos os assuntos da rádio corredor há um que pode ser bastante corrosivo: as relações afetivas dos colegas. E é ainda pior se as suspeitas recaem sobre pessoas casadas.

A história do golfista Tiger Woods, que perdeu patrocínios após admitir que tinha cometido adultério, demonstra os riscos dessas relações.“O tema do adultério nas empresas é espinhoso, e não há uma fórmula exata e acabada sobre o que fazer nesse tipo de situação”, diz a consultora Valéria Drummond, da Potenciar Consultores Associados.

A Potenciar atua há 25 anos no mercado aplicando técnicas de psicodrama em corporações para melhorar o autoconhecimento dos funcionários e harmonizar as relações internas. No psicodrama, que tem uma dinâmica coletiva, emergem questões que são tratadas de forma particular posteriormente. Muitas vezes surgem situações que poderiam ser problemáticas para o relacionamento do grupo, e entre elas estão comportamentos considerados inadequados.

Valéria não cita nomes nem as empresas envolvidas, mas diz já ter se deparado com pelo menos dois casos em que relações adúlteras entre funcionários estavam causando constrangimentos na equipe.

Mas não há uma resposta definitiva sobre o que fazer numa hora dessas. “Cada situação é diferente da outra, e deve ser tratada de um modo”, diz a consultora. Para ela, um fator determinante é preservar identidades, o que facilita a tomada de soluções sem maiores escândalos.

Bom senso - “Em uma das situações, quando o caso já era de conhecimento dos colegas, o constrangimento acabou fazendo com que uma das pessoas pedisse demissão”, diz Valéria. Mas, quando isso não ocorre, tudo depende do bom senso das lideranças.

A consultora cita também um exemplo em que o gestor teve de chamar – discretamente – o par envolvido para uma boa conversa sobre as melhores saídas, uma vez que o grupo de trabalho não estava recebendo bem aquela situação. Por um consenso, houve uma transferência de postos.

Quando o problema não é bem resolvido pode prejudicar até mesmo o desenvolvimento de carreiras. Uma profissional da área de turismo, que trabalhou quatro anos no setor de comunicação de uma grande empresa de viagem, e relata como os casos extraconjugais de um gestor acabaram por minar a confiança do grupo.

“Todos sabiam que ele era casado, a esposa estava grávida, nem por isso deixava de procurar uma série de parcerias, inclusive entre as colegas”, diz. “O problema é que a equipe não consegue, depois de um tempo, confiar mais naquela liderança, e o ambiente vai ficando envenenado, cheio de piadinhas”, relata.

De acordo com a profissional, que prefere não se identificar, todos ficavam constrangidos ao perceber que aquele chefe vivia em uma rede de mentiras, e que favorecia as parceiras amorosas que tinha no ambiente de trabalho. “Chegou uma hora em que ninguém acreditava em mais nada do que ele falava”, completa, impressão que era agravada pela percepção de que as diretorias tinham conhecimento da situação, mas nada faziam para mudar esse clima. Ela acabou pedindo demissão, acompanhada, ao longo do tempo, por outros colegas.

A questão da cultura organizacional é determinante para que as lideranças tomem ou não atitudes. Mas é preciso sempre estar atento a um fator: a inclinação à maledicência e à suspeição exagerada. “Não é porque a chefe sorriu ou olhou para o funcionário que eles estão tendo um caso”, diz Valéria.

Almoços mais demorados ou trabalhos depois do horário também podem ser usados por alguns membros atuantes de rádio corredor para disparar ilações. Nessa mesma linha, vale ressaltar que o afeto, a amizade e a simpatia não têm necessariamente conotação sexual. “Sempre o que vai ser mais importante é o bom senso e a habilidade dos gestores para lidar com as situações embaraçosas, sejam elas verdadeiras ou simples fantasia dos colegas”, diz Valéria. “E quase tudo se resolve com uma boa conversa em particular.”

Implicações legais :

O tema não se resume a moralismo, a uma intervenção descabida da empresa na vida particular dos funcionários. A situação de envolvimentos amorosos dentro do ambiente profissional pode gerar uma série de prejuízos na harmonia do grupo na medida em que as pessoas trabalhem no mesmo local e ainda mais se houver uma relação de subordinação entre elas.

É por esse mesmo motivo que algumas empresas – dependendo de seu código de conduta e valores – proíbem que os funcionários formem casais estáveis. De acordo com essa visão, sempre haveria suspeitas de favorecimentos, informações privilegiadas e outras práticas inadequadas. Se isso vale para casamentos, vale ainda mais para um caso amoroso clandestino, cheio de segredos que aumentam as desconfianças.

Uma recente enquete feita por um dos maiores portais de internet do Brasil constatou que 89% das pessoas flertaram no ambiente de trabalho, ante menos de 11% que responderam dizendo que nunca o fizeram. A pesquisa não identificava se a paquera ocorreu com pessoas solteiras ou comprometidas.

“Perante a lei trabalhista, o principal é manter a isonomia entre os funcionários”, diz a sócia do escritório de advocacia Granadeiro Guimarães, Aparecida Tokumi Hashimoto. Dessa forma, ela acredita que a empresa tem o direito de transferir ou mesmo demitir profissionais que tenham um comportamento que não esteja de acordo com esse princípio, o que inclui casos em que possa haver favorecimento entre pessoas que mantenham um relacionamento. “A questão é saber se houve um comportamento que afetou o ambiente de trabalho – a vida pessoal não deve prejudicar o que acontece dentro do ambiente de produção”.

Aparecida também afirma que os relacionamentos amorosos entre pessoas de empresas concorrentes, que possam levar prejuízos a uma delas, como o vazamento de informações confidenciais, dá o direito ao empregador de se precaver até mesmo com a demissão do funcionário.

No entanto uma atitude mais drástica só poderia ser tomada com provas de que houve prejuízo às atividades da empresa, de forma a se evitar um futuro processo por danos morais no caso de uma alegação mal formulada. E vale lembrar que, num caso desses, a rádio corredor não é prova de nada.

Canal RH.

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