A revolução digital e o emprego.
A
revista The Economist apresentou recentemente um importante relatório sobre o
impacto das tecnologias digitais no emprego e na remuneração (The World Economy,
4/10/2014 ).
O referido artigo mostra que uma parcela expressiva da força de trabalho
mundial vem obtendo aumentos salariais decrescentes ao lado da entrada daquelas
tecnologias. Entre 1991 e 2012, o aumento real médio dos salários na Inglaterra
foi de 1,5% ao ano; nos Estados Unidos, de 1%; e na Alemanha, de 0,6% - todos
bem abaixo dos ganhos de produtividade e do crescimento das empresas.
Os
dados mostram grandes dispersões em torno das médias. Os profissionais
especializados ganharam, enquanto os demais perderam em termos salariais.
Muitos dos que estavam na indústria foram substituídos por tecnologia e
"empurrados" para o setor de serviços. Alguns economistas entendem
que as próprias inovações tecnológicas abrirão espaços para os países se integrarem
no comércio internacional de serviços e, nesse setor, abrigar os deslocados da
indústria.
Ocorre
que também nos serviços a variação é enorme. As atividades dominadas por
tecnologias sofisticadas, como no setor financeiro, proporcionam ganhos
salariais expressivos para os profissionais especializados. Mas as demais, em
especial as atividades do comércio e de serviços pessoais, oferecem salários
minguados. Uma elevação adicional do conteúdo tecnológico dessas atividades
redundaria em desemprego de pessoas que não encontrariam condições para voltar
para a indústria ou para a agricultura.
Para
os analistas que assim pensam, as consequências sociais do avanço tecnológico
são decepcionantes e os trabalhadores são os perdedores.
E
o problema não para aí. As novas tecnologias ameaçam substituir os próprios
profissionais especializados. Os médicos poderão ser substituídos por
equipamentos que fazem diagnósticos e prescrevem a terapia. Os milhões de
professores poderão ser trocados por alguns tutores que ensinam multidões a
distância. Os pesquisadores poderão sofrer a concorrência de sistemas digitais
que realizam milhões de experimentos até encontrar a resposta para a questão
pesquisada.
Ao
lado dessas previsões catastróficas, muitos analistas argumentam, porém, que os
impactos positivos das inovações tecnológicas são demorados, mas vêm. Assim
ocorreu com a introdução da mecanização na agricultura, com o invento da
máquina a vapor e com a entrada do motor elétrico e da telefonia na indústria e
nos serviços. Em todos os casos, o emprego cresceu e os salários subiram depois
de certo tempo. Na verdade, o mundo nunca assistiu a uma avalanche de
desemprego e a uma deterioração dos salários em decorrência de inovações que
elevam a produtividade.
Mas
será que isso vale para a revolução digital? A própria The Economist apresenta
importantes sugestões para enfrentar os novos desafios. Para sobreviver e
progredir na revolução digital, as sociedades terão de prover aos trabalhadores
educação de boa qualidade e bom acesso a uma infraestrutura eficiente. Para os
que por algum tempo ficarem de fora da referida reintegração, a revista sugere
subsídios ao emprego e garantia de uma espécie de renda mínima. Os analistas
lembram, finalmente, que inúmeras profissões manuais qualificadas continuarão
com grande demanda (eletricistas, encanadores, mecânicos, etc.), restando a
eles, porém, se qualificarem para se engajar com vantagem no novo mundo dos
serviços.
Os
programas de seguro-emprego, como o Kurzarbeit, da Alemanha, a redução da burocracia
na contratação de trabalho e a diminuição dos encargos sociais são essenciais
para acomodar os trabalhadores deslocados. Ou seja, a revolução digital vai
demandar uma verdadeira revolução educacional e trabalhista para que a
humanidade se beneficie de modo mais equitativo das vantagens trazidas pela
modernização tecnológica.
O
Estado de São Paulo.
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que essa sua atitude fez parte da sua história”.
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