Amigos de escritório.
Amigos,
amigos, negócios à parte? Não é assim que as coisas funcionam no mundo
corporativo hoje. Uma pesquisa mundial feita pela rede social LinkedIn com 11 500 pessoas revelou que 46% dos
profissionais se sentem mais felizes quando são amigos dos colegas de trabalho.
No
Brasil, amizade também quer dizer motivação: 36% dos entrevistados dizem que
dividir o escritório com amigos aumenta o ânimo para trabalhar.
Como
a sociedade brasileira é mais cordial e propensa a misturar público e privado,
é fácil entender por que a amizade é fator fundamental para que um ambiente de
trabalho seja considerado agradável — isso, inclusive, é um dos aspectos mais
importantes para os profissionais que fazem parte das 150 Melhores Empresas
para Você Trabalhar e que costumam dizer que a empresa é uma boa empresa
porque, “acima de tudo, todo mundo é amigo”.
Socialmente,
os brasileiros preferem estar em um ambiente que desperte sentimentos de
amizade. “A relação pode ser hierárquica e haver pressão, mas as pessoas vão
tentar ser amigáveis, é cultural”, diz a antropóloga Claudia Rezende, do Rio de
Janeiro.
A
amizade também é vista pelas empresas como forma de aumentar o engajamento e a
produtividade dos profissionais. Um estudo do instituto de pesquisa Gallup
mostra que pessoas que trabalham com amigos são 50% mais satisfeitas do que as
que estão em ambientes sem intimidade. “Há mais confiança e um clima melhor em
equipes formadas por pessoas que se dão bem”, diz Ana Pilopas, do Hudson
Institute of Coaching, de São Paulo.
As
companhias começaram a levar tão a sério esse bom relacionamento entre os
colegas que a política de indicações está virando prática comum e sendo
gabaritada pelo RH. A construtora Tecnisa estimula que os funcionários façam
indicações. O programa começou em 2012 e já contratou 220 pessoas.
A
ideia surgiu como forma de aumentar a rapidez da seleção e economizar no gasto
com firmas de recrutamento. “A redução de custos é de 90%”, diz Thais Vieira de
Camargo, gerente de recursos humanos da Tecnisa. “Levávamos 25 dias úteis com o
modo tradicional e agora são, em média, nove dias.” Os indicados seguem o
processo seletivo comum, com entrevistas com o RH e com os futuros chefes.
A
velocidade ocorre porque os funcionários costumam indicar gente alinhada com o
perfil da empresa. Foi o que fez Darcio Lemos, de 31 anos, analista de mídia
digital da Tecnisa, que indicou sua amiga Paula Herrera Serrano, de 27 anos,
para uma vaga. Darcio conhecia Paula porque ela trabalhava em uma empresa
parceira da Tecnisa.
“Perguntei
se ela gostaria de vir, contei quais seriam as atribuições e como é o clima”,
diz Darcio. “O que ele nem imaginava é que há tempos eu queria ser funcionária
da Tecnisa”, diz Paula. Há seis meses na empresa, ela trabalha como analista
digital e é colega de Darcio, que a ajudou a se integrar. Depois dos 90 dias de
experiência da amiga, Darcio ganhou um bônus de 250 reais da construtora.
Outra
empresa que estimula as indicações é a Enel Green Power, especializada em
energia renovável, do Rio de Janeiro. Por lá, os funcionários recebem 1 000 reais se forem certeiros na
indicação. Vitor Souza, de 31 anos, é engenheiro mecânico na companhia e
conseguiu a vaga por meio da indicação de um amigo de faculdade: Pedro Paulo
Morais, coordenador de engenharia, de 31 anos.
“Falei
para o Pedro que queria sair de meu trabalho e para ele me avisar se soubesse
de algo”, diz Vitor. Quando a oportunidade surgiu, Pedro refletiu antes de
fazer a indicação e pensou sobre as habilidades de Vitor. “Minha credibilidade
estava em jogo”, diz Pedro.
Isso
é importante. Mesmo que a empresa não tenha um programa, é comum que chefes
peçam sugestões para preencher vagas. “É preciso lembrar que afinidades unem as
pessoas, mas que no trabalho o critério é a meritocracia”, diz Adriana Prates,
da Dasein Executive Search, de Belo Horizonte.
Razão e coração:
Como
passamos mais tempo no escritório do que em qualquer outro lugar, é natural que
as conexões surjam e que, com elas, amigos sejam feitos. Até aí, nenhum
problema. “As parcerias sinceras ajudam na reflexão e na solução de problemas”,
diz Anderson Sant’Anna, professor da Fundação Dom Cabral, escola de negócios de
Minas Gerais.
Só
é preciso ficar atento a como essas relações vão afetar a rotina de trabalho e
as decisões a ser tomadas, que podem pender para um lado apenas porque um amigo
está envolvido com um projeto, por exemplo. O perigo é que o pessoal se
sobreponha ao profissional e haja proteção e premiação não por meritocracia,
mas por camaradagem.
Isso
é mais comum em casos de chefes e subordinados que são amigos, mas também pode
ocorrer entre colegas — um protege o erro do outro para manter a relação
pessoal. “Em algum momento, o problema aparece e alguém terá de assumir a
responsabilidade”, diz Adriana.
O
melhor é ter equilíbrio. No mundo ideal, a amizade no escritório penderia mais
para uma relação de respeito mútuo do que para a intimidade profunda. Quando se
ultrapassa essa fronteira, é preciso tomar muito cuidado: as empresas são
imprevisíveis e, a qualquer hora, seu melhor amigo pode se tornar seu chefe ou
concorrer com você para uma vaga ou promoção.
“Se
ele sabe suas fraquezas e seus problemas pessoais, pode usar isso de alguma
forma para enfraquecê-lo”, diz Adriana. “Amizade sincera é aquela em que a
outra pessoa não só o conforta pelos seus fracassos mas também fica feliz pelas
suas conquistas.” Algo que não é tão fácil de encontrar — nem fora nem dentro
do escritório.
Exame.com
/ Você S/A.
"Prevencionista, se
você gostou, seja um seguidor e compartilhe com seus amigos e um dia verá que
essa sua atitude fez parte da sua história”.
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