Made in the world. È sempre bom saber.
Nos dias de hoje, praticamente inexiste produto que
seja feito inteiramente por uma só empresa. Tome o caso de um tênis: quem faz a
sola não faz o "tope"; quem faz o cordão não faz os ilhoses. A
produção é altamente fragmentada, tudo propelido pelas novas telecomunicações e
informática e pela melhoria do transporte e logística.
A fragmentação sempre existiu, mas jamais se viu
tamanha velocidade e abrangência. Hoje, os produtos unem esforços de várias
empresas do mesmo país ou de países diferentes, chegando a um produto que
deixou de ser made in USA ou made in Japan. Estamos no tempo do made in the
world.
Os bens industriais são frutos de inúmeras
interconexões das chamadas "cadeias globais de valor", que incluem
atividades que vão da concepção do produto à venda ao consumidor, por preço
atraente.
O vestido que a mulher compra na loja percorreu
velozmente um longo caminho do qual participaram pessoas e empresas das mais
variadas procedências e atividades.
Infelizmente, a maioria das empresas brasileiras
está fora das cadeias globais de valor. Mesmo as que brilham, fazem-no com
restrições. A Embraer, por exemplo, líder da cadeia mundial de produção de
aeronaves médias, se concentra na concepção e montagem dos aviões, e não na
produção dos milhares de componentes das aeronaves - todos importados da China,
Taiwan, Coreia do Sul, Japão, Alemanha, EUA e outros países que são líderes de
cadeias globais de valor em vários setores (Timothy Sturgeon e colaboradores,
Brazilian Manufacturing in International Perspective, CNI, 2013).
O impacto das cadeias globais de valor é imenso.
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 1995 a 2010 elas alavancaram
em 50% a interdependência das economias dos países do G-20. Isso foi essencial
para a competitividade das empresas e das nações.
No campo do trabalho, capacitação, especialização e
relações de trabalho são estratégicas. Nas cadeias globais de valor, alguns
trabalham de forma fixa e por prazo indeterminado na mesma empresa; outros
trabalham como freelancers. Há ainda uma imensidão de contratados e
subcontratados com vários tipos de vinculações.
A terceirização é amplamente praticada, dentro e
fora do país de origem das empresas. Caiu por terra o mito de que as cadeias
globais precarizam o trabalho humano.
Ao contrário. Por serem complexas e altamente
tecnificadas, elas vêm induzindo à melhoria da qualificação dos profissionais e
elevando sua empregabilidade, produtividade e renda.
A literatura sobre o assunto está repleta de
comprovações dessa natureza (Gary Gereffi e colaboradores, The governance of
global value chains, Review of International Political Economy, 2005).
O sucesso dessa gigantesca articulação de empresas
depende também da melhoria das instituições e da retaguarda dos negócios. O estudo
da OCDE deixa claro que a desburocratização, a segurança jurídica no
cumprimento dos contratos, a logística eficiente e as comunicações rápidas
respondem por mais de 50% do sucesso das cadeias globais de valor.
Investimentos em pesquisa, inovação e educação de boa qualidade respondem pela
outra metade.
Os que ignoram a interconectividade da economia
moderna, a necessidade de especialização e de relações de trabalho modernas
condenam seus países a uma triste estagnação.
É isso que estão fazendo os que combatem a
regulamentação da terceirização entre nós. Se as suas teses vencerem, o Brasil
será uma nação marginal e desatualizada no cenário das cadeias globais de valor
e os consumidores continuarão pagando preços exorbitantes por tudo o que
compram e consomem.
Para evitar esse quadro, precisamos aprovar
imediatamente as reformas institucionais que induzem as empresas a entrar e
participar ativamente nas grandes cadeias globais de valor. Isso é crucial não
apenas para exportar, mas, sobretudo, para bem competir internamente.
O Estado de São Paulo.
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