Twitter, facebook, msn...: Empresas no Brasil discutem as implicações do novo uso da internet no ambiente de trabalho: Funcionários não conseguem se desconectar.
Na Yahoo! Não há restrições, mas recomendações
para evitar vírus e saturação da rede. "Contamos com a maturidade e o bom
senso dos nossos colaboradores", afirma a diretora de RH Carolina Borgh.
Os funcionários brasileiros gastam em média 23 minutos por dia conectado na internet em páginas que nada tem a ver com o trabalho. Pode parecer muito, mas, na média, eles são um dos mais comportados no uso da rede.
Os mexicanos, por exemplo, admitiram passar 84
minutos navegando durante o expediente por razões pessoais. A discussão sobre o
uso da internet no trabalho vem crescendo nas empresas de todo o mundo,
especialmente entre gestores de recursos humanos e de tecnologia da informação.
Se por um lado as organizações temem uma possível perda de produtividade de seus empregados, por outro é impossível ignorar que ferramentas como o Twitter já estão inseridas no próprio trabalho.
Esses dados fazem parte de um estudo da empresa
de soluções de segurança para o uso da internet Websense realizado com 350
diretores de TI e 350 colaboradores de companhias de toda a América Latina.
Nele, 100% das pessoas admitiram usar a internet
no ambiente corporativo também para razões pessoais. Além de gastarem menos
tempo do que os outros países da região, os funcionários brasileiros também são
os que menos acessam conteúdo adulto no trabalho - apenas 2%. No Chile, o
índice chega aos 16%.
Para Fernando Fontão, gerente de engenharia de
vendas da Websense para a América Latina, há uma consciência maior hoje sobre
os riscos que essas práticas representam no meio corporativo.
Isso porque os colaboradores sabem que podem
estar sendo monitorados e que usar a internet de maneira inadequada pode acabar
em demissão. "Além disso, as pessoas hoje têm conexão em casa e deixam
para abrir conteúdos duvidosos no próprio computador", afirma.
A pesquisa mostra que, atualmente, as páginas de
notícias, de compras, de previsão do tempo, e de mapas estão entre as mais
acessadas pelos brasileiros durante o horário de trabalho.
Consultas pessoais em sites de bancos e de órgãos
governamentais - como licenciamento de veículos, imposto de renda e segunda via
de documentos - também são feitas pela grande maioria dos pesquisados.
Um dos maiores dilemas das organizações, porém,
são as redes sociais. "A pessoa não consegue ficar 10 horas, por exemplo,
sem acessar seu perfil e interagir com os amigos", diz Fontão. E este é um
fenômeno global.
Uma pesquisa realizada no Reino Unido pela
provedora de serviços de tecnologia da informação Morse, com 1.460
trabalhadores, revelou que mais da metade deles passam 40 minutos por semana em
redes de relacionamento como o Twitter e o Facebook enquanto estão trabalhando.
Segundo o estudo, publicado recentemente pelo
"Financial Times", isso representa pouco menos de uma semana inteira
de trabalho perdida a cada ano, o que custa às empresas um valor estimado em
1,4 bilhão de libras.
Waldir Arevolo, consultor sênior da TGT Consult
diz que é ilusão das empresas esperarem que seus funcionários produzam durante
todo o expediente, sem intervalos. "As pessoas fazem pausas para fumar,
para o lanche e para o café, assim como visitam um ou outro site que não diz
respeito a negócios. A produtividade vai cair proporcionalmente ao descuido e a
falta de planejamento que a organização possui sobre sua força de
trabalho", diz.
Na Sodexo Cheques e Cartões de Serviço são 480
funcionários com acesso direto a computador e a internet. Para garantir a
integridade do sistema, alguns sites e as redes sociais são bloqueadas.
"Temos uma política interna de uso de
recursos tecnológicos presente tanto em normativa quanto no código de ética e
compromisso da Sodexo no desenvolvimento sustentável", afirma o diretor de
recursos humanos Thiago Zanon.
Assim, todos os funcionários recebem dicas sobre
o uso do e-mail e o comportamento que deve ter on-line. "É preciso definir
como esses recursos devem ser usados para evitar riscos e garantir uma melhor
gestão", afirma Zanon.
Na outra ponta está a Yahoo! Brasil, empresa que
lida essencialmente com negócios na internet. "No nosso caso não faz
sentido qualquer tipo de restrição. Contamos com a maturidade e o bom senso dos
nossos colaboradores para que acessem apenas sites legais e confiáveis",
explica a diretora de RH da empresa, Carolina Borghi.
De qualquer modo, a Yahoo! Brasil também possui
um código de ética que trata sobre a confidencialidade de informações e de
projetos. "Além disso, fazemos algumas recomendações para evitar possíveis
vírus e saturação na rede", diz.
Já a farmacêutica multinacional Eli Lilly buscou
uma saída que vem se tornando cada vez mais comum: o meio-termo. A empresa
vinha registrando excesso de tráfego em sua rede, que acabava atrapalhando os
processos de rotina.
"Identificamos que 55% dos acessos eram a
sites que nada tinham a ver com os negócios da Lilly. Havia uma perda de
aproximadamente 30% na produtividade, além de custos desnecessários com infra-estrutura
e helpdesk", revela Luis Urso, gerente regional de infraestrutura de TI.
No início do ano passado, a companhia adotou
ferramentas para gerenciar o uso da internet no trabalho, sob a supervisão da
alta direção e do departamento de recursos humanos. Atualmente, quando alguma
página é bloqueada, o funcionário pode pedir a liberação enviando um formulário
que justifique esse acesso.
"Além disso, agora os sites de
relacionamento são liberados apenas em horários específicos, como o do almoço.
Nosso objetivo não é expor as pessoas ou restringir o uso dos recursos, mas
aperfeiçoá-los", afirma Urso.
Arevolo, da TGT Consult, ressalta que nem sempre
se chega facilmente a um consenso sobre o que se deve ou não ser liberado,
especialmente no caso das redes sociais como o Twitter. "Hoje as coisas se
confundem, pois as próprias empresas estão inseridas nesse contexto.
“Fazem negócios e se comunicam com seus
consumidores, clientes e parceiros por essas redes”, afirma. O ideal, segundo
ele, é que os gestores discutam com seus funcionários o que é importante ou não
para eles acessarem durante o expediente e o por quê. "Se esse
questionamento é feito de forma democrática, a discussão é canalizada para um
ponto comum, que pode resultar em inovação", afirma.
Na opinião do consultor, as empresas não podem
apenas bloquear o acesso a determinadas páginas, pois a internet é dinâmica,
mutável e não dá para prever o comportamento de seus usuários.
"Novas ferramentas, sites e softwares
aparecem na rede a cada dia, mudando os hábitos e as preferências de
navegação." Na lista das febres virtuais já estiveram chats, blogs,
fotologs, Orkut e comunidades do tipo Second Life, por exemplo.
"É preciso educá-los e orientá-los para que
tirem melhor proveito das possibilidades on-line, sem colocar a segurança da
companhia em risco e nem desperdiçar recursos e tempo."
Para Fontão, da Websense, as empresas no Brasil
ainda mais assustam do que orientam seus funcionários a respeito do uso da
internet. "As melhores companhias já perceberam que devem buscar soluções
melhores do que simplesmente proibir tudo. Mas esse ainda é um processo
demorado", afirma.
Fonte: Valor Econômico.
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